Entrevista com o Presidente da câmara municipal de Lamego,
Eng. Francisco Lopes

Por André Lopes

Q: Num período em que o Douro ainda vive as comemorações dos 250 anos da Região Demarcada de Vinhos e em que se anunciam novos projectos para a Região, como se posiciona o Concelho de Lamego neste contexto?

R: O concelho de Lamego proporciona, a cada recanto e a cada esquina, uma intensa experiência sensorial e criativa. Lamego sempre foi uma cidade de afectos, um exemplo de boa hospitalidade, acolhendo de uma forma quase familiar todos aqueles que a procuram. É assim a capital do património cultural da mais antiga região vitícola demarcada em todo o mundo – o Douro Vinhateiro.

As Festas em Honra de Nossa Senhora dos Remédios, cuja grandiosidade e reputação fazem dela a maior Romaria de Portugal, o Entrudo de Lazarim e a Queima do Judas de Lalim são apenas alguns exemplos desta comunhão de vontades e de valores. Lamego torna-se por estes dias um importante centro de convivência e partilha.

A importância patrimonial de Lamego, com os seus 33 elementos patrimoniais classificados, ou em vias de classificação, como Monumentos Nacionais ou como Imóveis de Interesse Público, e a sua integração no Alto Douro Vinhateiro Património da Humanidade significa que possuímos um potencial enorme em termos turísticos, sociais e culturais que urge aproveitar.

A Câmara Municipal está neste momento a fazer um esforço redobrado para salvaguardar, promover e dinamizar o legado histórico, cultural e natural que recebemos dos nossos antepassados.

Q: Fala-se muito no potencial turístico do Douro. Como é que isso se traduz e o que está a ser feito?

R: Defendo que, em primeiro lugar, é urgente sensibilizar a população local para a preservação desta “riqueza incomensurável com que podemos assombrar o mundo”, como escreveu Miguel Torga, referindo-se à região duriense.

A classificação do Douro como Património Mundial pela UNESCO em Dezembro de 2001, trouxe como é óbvio um maior reconhecimento e valorização pública a uma das mais belas paisagens do mundo. Lamego, sendo um dos 13 municípios com área inserida no território classificado, é neste momento um concelho mais apetecível para a captação de turistas oriundos de todo o mundo. Daí a necessidade do concelho acolher unidades hoteleiras de qualidade. Lamego quer impor-se pela qualidade.

Neste sentido, a Câmara Municipal de Lamego está empenhada em aproveitar o seu potencial turístico como alavanca para um desenvolvimento harmonioso e sustentável de Lamego e do Douro.

Neste momento, estão já em execução diversos investimentos no nosso concelho que, estou certo, vão oferecer melhores condições de acolhimento a quem nos visita, alguns promovidos por privados. Recordo, por exemplo, a instalação em curso, na Quinta do Vale Abraão, encostada à margem sul do rio Douro, do primeiro complexo turístico de cinco estrelas na região.

Acredito que a realização deste conjunto de investimentos permitirá que Lamego recupere algum do protagonismo perdido nos últimos tempos..

Q: Diz-se que o Entrudo de Lazarim trouxe nos últimos tempos uma forte dinâmica ao Concelho de Lamego. Qual a sua opinião sobre isso?

R: Todos os anos, milhares de forasteiros acorrem ao concelho de Lamego em busca do esplendor das vinhas, da majestade dos monumentos, da boa gastronomia, da beleza ímpar das Quintas do Douro, do rio, das romarias, das pessoas, do melhor vinho do mundo – o Vinho do Porto e os mais reputados espumantes de Portugal.

No âmbito da oferta cultural existente no concelho, esta autarquia realiza uma aposta muito forte na promoção do Entrudo de Lazarim, considerado um dos Carnavais mais típicos do país. Aqui, a tradição ainda é o que era. Uma festa antiga e muito querida do povo, que tem atraído um número crescente de curiosos, fascinados por esta original manifestação cultural e popular. Estou certo que o cartaz de comemorações do Entrudo de Lazarim deste ano, bastante abrangente e diversificado, deixará os visitantes muito satisfeitos.

Q: Que significado poderá ter o Entrudo de Lazarim, para o desenvolvimento económico local?

R: O potencial económico do Entrudo de Lazarim é bastante significativo, sobretudo para a vila de Lazarim e para o concelho de Lamego. Para além do período em que decorrem as actividades mais importantes, que atraem muitos turistas, sublinho que os tradicionais Caretos, esculpidos em madeira de amieiro, são feitos ainda hoje de uma forma completamente artesanal e que, devido a esta originalidade, têm uma grande procura em todo o mundo. Existem máscaras de Lazarim expostas em diversos núcleos museológicos fora de Portugal, por exemplo, nos Estados Unidos e no Japão.

Os artesãos que dão vida a estes Caretos prometem continuar a recuperar a memória histórica das gentes de Lazarim e, com isso, projectar Lamego em todo o mundo. Apesar de lhes faltar a arte da venda e do comércio conseguem obter benefícios económicos.

Q: Quais os principais desafios para o futuro, e como os enfrentar?

R: Lamego é o centro histórico e cultural do Douro e por isso as suas potencialidades ao nível do turismo são enormes. A Câmara Municipal pretende concretizar, ao longo dos próximos anos, um conjunto de obras de recuperação de uma parte substancial do património cultural e arquitectónico do município. Em simultâneo, pretendemos consolidar a projecção e dinamização das manifestações culturais mais genuínas que ocorrem no concelho, entre as quais o Entrudo de Lazarim.

Em relação a este ritual popular pretendemos investir no reforço da sua divulgação, a nível nacional, e atrair novos públicos, tendo sempre a preocupação de respeitar a sua autenticidade e tradição.

Q: Relativamente ao Entrudo de Lazarim em 2007, que surpresas devemos esperar?

R: O cartaz de festividades da edição deste ano do Entrudo de Lazarim é bastante variado e valioso. Para além de iniciativas que são comuns a anos anteriores, como é o caso do cortejo etnográfico com mais de 150 participantes, da leitura do testamento e de espectáculos de música popular, destaco a realização de uma exposição fotográfica, de qualidade ímpar, sobre o Entrudo de Lazarim, que terá lugar na Av. Dr. Alfredo de Sousa, em Lamego. A restante programação é bastante rica e inclui ainda tendinhas de produtos regionais e de gastronomia e o concurso de máscaras.

Estou certo que os lamecenses e todos os visitantes continuarão a encontrar muitos motivos de interesse no Entrudo de Lazarim, símbolo do sentir e da arte popular desta povoação encostada à Serra de Montemuro.
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